Ânsia.
Hoje eu estava lendo "O inventor da solidão", de Paul Auster, e notei umas coisas interessantes. Primeiro foi a coisa da memória. Eu não terminei o livro (é muito denso), mas ele fala como parecia que sua vida não se passava no presente, como tudo parecia estar definhando ou remeter a algo em seu passado. Nada parecia estar no agora. Tá, tenho que admitir, me identifiquei bastante com isso. Especialmente agora. Ok, talvez sempre tenha sido assim (tá vendo? Não vivo no presente). Mas o que me interessou também foi outra coisa. Foi ele falar que para ele a memória era o beisebol da infância. As memórias mais fortes que ele tinha eram do beisebol. E ele, no livro, estava morando sozinho num quarto pequeno poucos meses após a morte do pai e logo depois de um divórcio, o qual o separou de seu filho. Com todas essas coisas dolorosas sobrepostas, ele pensa em beisebol. Porque foi algo que marcou a infância dele, algo que dava a ele uma sensação de não ser um completo inútil em algo que fazia. A memória para ele se organizava como um jogo de beisebol. E eu fiquei pensando como ela se organiza para mim. Para ver se isso me dava algum insight sobre a vida, meu (bloqueado) processo criativo e todos os problemas que parecem rondar minha cabeça como uma nuvem negra, por mais que eu tente ficar longe deles.
O ponto central de Caio Fernando Abreu era a solidão. O da Hilda Hilst era Deus. O de Beckett era o ruído (e o silêncio por ele provocado).
Qual o meu? O que é que me move?
Descobri a resposta.
Intimidade.
Eu me lembro mais claramente desses momentos. Intimidade. Eu e o outro. Uma conversa, uma conexão, um toque. Sim, outras coisas também fazem parte, mas o crucial é a intimidade. Eu vivo em busca disso e por isso (já que é algo raro) eu me fodo. E vai ficar mais raro com o passar do tempo, eu sei. Mas eu preciso. E é muito fugaz o momento. É uma energia sutil demais. E, quando aparece, é necessário agarrar com unhas e dentes o momento. Só que quando passa, eu me abstenho de quaisquer outras ações e aí meus amigos, família, companheiros de trabalho, etc. ficam putos comigo. Mas notei hoje que não tem muito jeito. Eu só preciso aprender a sair quando for pra sair.
E aí me perguntei porque eu ando tão sozinho. E notei.
Eu não me dou tempo. Para as pessoas. Para as coisas. Para parar e ficar ao lado de alguém. Para terminar o que começo. Porque estou desesperadamente buscando esses momentos de intimidade. Acho que eu tenho esperança que o teatro me dê isso.
É meu tema. É isso que eu sou. Pelo menos agora, pelo menos em parte.
Intimidade. Afeto. Falta de contato. Eu e outra pessoa.
Sim, chame de carência afetiva. Não é isso. Pode ser toda a atenção do mundo, não me interessa.
Eu tenho que sentir.
Here. Inside. Here.
And when I don't feel it, it's pointless.
Think about getting up it's pointless.
Think about eating it's pointless.
Think about dressing it's pointless.
Think about speaking it's pointless.
Think about dying only it's totally fucking pointless.
Here now.
Safe on the other side and here.
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