Sobre tomar cuidado consigo mesmo.
Cuide-se. Foi essa a expressão que ficou em minha cabeça depois da mostra do processo da peça "Deserto".
Cuide-se.
Uma artista européia, da qual não me lembro o nome agora, fez uma vídeo-arte que consistia no seguinte: 107 mulheres lendo uma carta de despedida. Vou explicar. Essa artista levou um pé na bunda do namorado. Por e-mail. Ela pegou esse e-mail e 107 mulheres diferentes (desde atrizes até advogadas) e as fez lê-lo em voz alta na frente de uma câmera, uma de cada vez.
E o e-mail terminava com a seguinte afirmação: Cuide-se.
Isso bateu na minha cabeça naquele lugar que você prefere deixar escondido, sabe? Pra não incomodar no dia-a-dia. The eraser, como diz Thom Yorke. A gente tem que apagar certas coisas. Mas eu acho que minha borracha é meio defeituosa.
Eu me perguntei quantas vezes eu tinha dito essa frase.
Quantas vezes eu a tinha ouvido.
Quantas vezes havia sido recíproca. Quantas vezes não.
Tinham sido muitas?
O que são muitos "Cuide-se"?
Quando eu disse essa frase pra alguém, eu pensei que já a havia ouvido? E vice versa? Eu pensei em alguma coisa? Ou é só um meio de fugir da responsabilidade? Se bem que eu sei que culpa esmaga você com o tempo. Mas... a questão no fundo é: O que essa frase deve significar?
Foi isso que eu pensei quando me falaram que cada uma das mulheres no vídeo lê a carta de um jeito diferente.
Cuide-se.
É vago. É amplo. Eu estou realmente me importando?
E se eu me importar, faz diferença para como aquela pessoa se sente?
E quando alguém me diz isso, como eu devo compreender? É uma coisa tão solta...
Aí eu faço conexões com intenções que eu já tive ao dizer essa mesma coisa.
E sinto que eu não posso entender quem quer que seja.
É claro que todos vamos nos cuidar. O que isso quer dizer?
O que eu quis dizer?
O que eu quero dizer?
O que dá pra dizer nesses momentos?
Muito pouco.
Talvez "Cuide-se" seja o melhor que nós podemos fazer.
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