Para Clarice Lispector
Minha alma tem o peso de um cigarro.
Oito minutos e uma lágrima que não desce do olho do pai
Minha alma tem o peso de uma foda rápida
num canto de parede
tem o peso de uma tosse cheia de sangue
e pequenos pedaços de alguma coisa que eu não sei o que é
no fundo de uma garrafa de cerveja.
Tem o peso de uma tarde debaixo da chuva
e da bateria arriada de um carro.
Minha alma tem pequenos anzóis que prendem meu corpo no chão
e não me deixam cair nem levantar
tem pequenos poros que suam um líquido branco
com cheiro de amônia
e buracos maiores
aqueles que ficam quando você abandona um vício
aqueles que se tenta preencher com fumaça & esperma & álcool & carinho & perdão
mas só cabe um choro, um estalo de algum osso que você não sabe se quebrou
ou se sua autopiedade está pregando uma peça em você.
Tem o peso de dedos tremendo enquanto rabiscam a folha e escrevem mensagens e o ônibus não
vai voltar
e a luz dos postes vai rareando e a estrada é longa e você não usa o cobertor que te deram
e tem coisas que não se diz (os anzóis?)
também sem peso
que eu não sei se levo comigo
ou se saem depois de uma ducha fria