Volta à cidade. Ao rumo. À vida. Tenho outras coisas pra falar aqui, uma certa peça (na verdade, não foi a peça, foi uma coisa que os atores disseram depois, mas deixa isso pra outra hora. Não tem nada a ver com trabalho, é pessoal), momentos em ônibus saindo e chegando, dias que passam rápido. Momento presente. Sempre, o momento presente.
"A solidão é meu cigarro"
Estou tentando entender o tempo que passa. O encontro que os dias proporcionam. A viagem. Dessa vez, eu não estava fugindo de Natal, nem de nada ou ninguém nessa cidade. Pela primeira vez, acho.
"Não sei de nada e não sou de ninguém"
Eu estava cumprindo um plano feito há mais de um mês. Na verdade, faz muito tempo que penso nesse festival. Pra uma pessoa inconstante como eu, um mês é muito tempo. E ainda assim, para fazer a viagem tudo aconteceu de supetão. Aquela cidade aparecer assim pra mim me deu medo.
"Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem"
Meu amigo João me ajudou, eu acho, a lembrar de uma confiança que o lugar que eu moro me fez esquecer. Porque aqui o morno é bom pela falta de outra coisa melhor. E não vale a pena. Não pra mim. Não mais. *UPDATE* E tem mais um detalhe que, injustamente (ou pela surrealidade que foram esse dez dias em Curitiba), não mecionei aqui. Longe de todos e de tudo, até João já tinha ido embora, Ana Áurea apareceu e me deu um aniversário com tudo que eu tinha direito, incluindo pizza de peru (ou era frango?) com bandeira reutilizada do aniversário da Ana Luísa graças à falta de velas. Sabe, é por causa dessas coisas. Um dia em que alguém atolado em trabalho (Medicina, sabe como é) vem e te oferece um presente desses vale a pena. E isso não é meio-termo. A pessoa se dispõe a ir lá e faz. Nem que seja pra o dia não passar em branco. E, graças a ela (me perdoem todos os que me deram parabéns pelo orkut, mas eu acho isso meio automático. Não que eu não pratique a mesma farsa) não passou. A ela e a Carla Tauzs, mas a Carla é uma atriz e não fazia mais que seu trabalho.
"Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém"
Lá em Curitiba eu vi pessoas que dão o sangue pelo teatro. Que fazem o que gostam bem feito. E não interessa se todo mundo vai achar o trabalho lindo ou uma merda. Eu vi e vivi muitas coisas que me mudaram, lá em Curitiba. Muitas, muitas mesmo. Cada dia, realmente, era um salto no abismo. E era ótimo.
"Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem..."
Não vou deixar a peteca cair de novo, sabe. Algumas pessoas têm me dito pra eu parar de me preocupar com detalhes, outras que essa história de se sentir culpado por tudo é uma merda. E é mesmo. Eu mal consigo cuidar de mim mesmo, quanto mais dos outros. Isso no dia-a-dia é bem difícil, mas o desafio é esse. E é por isso que eu faço teatro. E é por isso que eu quero escrever cartas pra pessoas que eu não vejo já fazem três anos, que talvez nem se lembrem de mim. E quero escrever outras cartas. Muitas. Não são tantas pessoas assim. Mas eu quero dizer muito a cada uma delas.
"Quem saberá a cura do meu coração senão eu?"
Estou disposto a levar a pancada, eu acho. 20 anos, né? Não que eu já seja adulto (segundo a lei brasileira sim, mas segundo a OMS não, nem nunca vou ser com aqueles critérios exigentes), tenha que me responsabilizar por tudo e agora entrar no molde. Talvez eu faça. Talvez não. Descobri que não existe molde. Respira fundo e olha pra você. E se aparecerem algumas pessoas no caminho com quem você consegue dividir qualquer coisa que seja, aproveita. Mesmo. Senão nos tornamos secos. Podemos sofrer sim, mas como já dizia o autor das frases acima, sofrimento não é amargura, tristeza não é pecado. Então vou seguir nessa ânsia estranha, essa dor que me diz que eu existo. Essa necessidade de continuar. Sempre. Até que essa vida violenta e apaixonada não tenha mais sentido. Ou nem isso. Até que. Não sei. Até que. Um dia. Até.
"A paixão é um mar
Parabólica
Dilatada
Estrada que dói."