segunda-feira, 31 de março de 2008

Coisas que você encontra enquanto estuda teses de mestrado.

"Alguém me disse essa coisa que acabou entrando na peça - porque eu estava falando sem parar sobre como é importante falar a verdade e como a vida é deprimente porque no fundo ninguém fala e você não pode ter um relacionamento honesto. E ele disse, 'Mas isso é porque você tem os valores errados. Você vê a honestidade como absoluta. E ela não é. A vida é absoluta. E dentro disso você pode aceitar desonestidade. E se você puder aceitá-la você ficará bem.' E eu pensei que isso é verdade. Se eu pudesse aceitar que não ser completamente honesta não importa eu me sentiria muito melhor. Mas por algum motivo eu não conseguia."

"Quando você percebe que a vida é cruel, a única resposta é viver com o máxido de humanidade, humor e liberdade que você conseguir."

"A única forma de retornar a qualquer tipo de sanidade é se conectar fisicamente com quem você é, emocionalmente, espiritualmente e mentalmente. E a questão de Hipólito é que no momento da morte dele tudo de repente se conecta. Ele tem um momento de humanidade e sanidade completa, mas para chegar lá ele tem que morrer. (...) Eu acho que é por isso que, em outro nível, algumas pessoas se cortam. Eu conheci alguém que só Deus sabe quantas overdoses ela teve e que tentou se suicidar de quase todas as formas possíveis e imagináveis. Ela tinha uma cicatriz enorme aqui (aponta para a garganta) e cicatrizes aqui (aponta para os pulsos). Mas, na verdade, ela está mais conectada com ela mesma do que a maioria das pessoas que eu conheço. Eu acho que no momento em que ela se corta, ou quando ela toma uma overdose, ela entra em conexão com ela mesma e de repente quer viver. Então ela vai para o hospital. A vida dela é uma série contínua de tentativas de suicídio que ela logo depois rejeita. E sim, há algo realmente horrível nisso, mas eu posso compreendê-la muito bem. Faz sentido para mim."
(Sarah Kane)

Minha ídola.

Transfiguração

Volta à cidade. Ao rumo. À vida. Tenho outras coisas pra falar aqui, uma certa peça (na verdade, não foi a peça, foi uma coisa que os atores disseram depois, mas deixa isso pra outra hora. Não tem nada a ver com trabalho, é pessoal), momentos em ônibus saindo e chegando, dias que passam rápido. Momento presente. Sempre, o momento presente.

"A solidão é meu cigarro"

Estou tentando entender o tempo que passa. O encontro que os dias proporcionam. A viagem. Dessa vez, eu não estava fugindo de Natal, nem de nada ou ninguém nessa cidade. Pela primeira vez, acho.

"Não sei de nada e não sou de ninguém"

Eu estava cumprindo um plano feito há mais de um mês. Na verdade, faz muito tempo que penso nesse festival. Pra uma pessoa inconstante como eu, um mês é muito tempo. E ainda assim, para fazer a viagem tudo aconteceu de supetão. Aquela cidade aparecer assim pra mim me deu medo.

"Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem"

Meu amigo João me ajudou, eu acho, a lembrar de uma confiança que o lugar que eu moro me fez esquecer. Porque aqui o morno é bom pela falta de outra coisa melhor. E não vale a pena. Não pra mim. Não mais. *UPDATE* E tem mais um detalhe que, injustamente (ou pela surrealidade que foram esse dez dias em Curitiba), não mecionei aqui. Longe de todos e de tudo, até João já tinha ido embora, Ana Áurea apareceu e me deu um aniversário com tudo que eu tinha direito, incluindo pizza de peru (ou era frango?) com bandeira reutilizada do aniversário da Ana Luísa graças à falta de velas. Sabe, é por causa dessas coisas. Um dia em que alguém atolado em trabalho (Medicina, sabe como é) vem e te oferece um presente desses vale a pena. E isso não é meio-termo. A pessoa se dispõe a ir lá e faz. Nem que seja pra o dia não passar em branco. E, graças a ela (me perdoem todos os que me deram parabéns pelo orkut, mas eu acho isso meio automático. Não que eu não pratique a mesma farsa) não passou. A ela e a Carla Tauzs, mas a Carla é uma atriz e não fazia mais que seu trabalho.

"Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém"

Lá em Curitiba eu vi pessoas que dão o sangue pelo teatro. Que fazem o que gostam bem feito. E não interessa se todo mundo vai achar o trabalho lindo ou uma merda. Eu vi e vivi muitas coisas que me mudaram, lá em Curitiba. Muitas, muitas mesmo. Cada dia, realmente, era um salto no abismo. E era ótimo.

"Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem..."

Não vou deixar a peteca cair de novo, sabe. Algumas pessoas têm me dito pra eu parar de me preocupar com detalhes, outras que essa história de se sentir culpado por tudo é uma merda. E é mesmo. Eu mal consigo cuidar de mim mesmo, quanto mais dos outros. Isso no dia-a-dia é bem difícil, mas o desafio é esse. E é por isso que eu faço teatro. E é por isso que eu quero escrever cartas pra pessoas que eu não vejo já fazem três anos, que talvez nem se lembrem de mim. E quero escrever outras cartas. Muitas. Não são tantas pessoas assim. Mas eu quero dizer muito a cada uma delas.

"Quem saberá a cura do meu coração senão eu?"

Estou disposto a levar a pancada, eu acho. 20 anos, né? Não que eu já seja adulto (segundo a lei brasileira sim, mas segundo a OMS não, nem nunca vou ser com aqueles critérios exigentes), tenha que me responsabilizar por tudo e agora entrar no molde. Talvez eu faça. Talvez não. Descobri que não existe molde. Respira fundo e olha pra você. E se aparecerem algumas pessoas no caminho com quem você consegue dividir qualquer coisa que seja, aproveita. Mesmo. Senão nos tornamos secos. Podemos sofrer sim, mas como já dizia o autor das frases acima, sofrimento não é amargura, tristeza não é pecado. Então vou seguir nessa ânsia estranha, essa dor que me diz que eu existo. Essa necessidade de continuar. Sempre. Até que essa vida violenta e apaixonada não tenha mais sentido. Ou nem isso. Até que. Não sei. Até que. Um dia. Até.



"A paixão é um mar
Parabólica
Dilatada
Estrada que dói."

sexta-feira, 28 de março de 2008

A insustentável leveza.

Ontem eu entrei no meu paraíso astral.
Hoje estou leve.




E acho que isso é bom.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Happy birthday to me.

Acordo às 6:40 da manhã sem sono algum, depois de uma noite sobressaltada. Penso em dormir de novo. Cantarolo "parabéns para mim" baixo, com um sorriso engraçado no rosto. Bandoleiro com coração de gás néon. Olho a hora, 6:51. Nasci às 7, se não me engano e minha memória não falha. Decido levantar e acender velas improvisadas. Pego os palitos de fósforo que não foram usados para aliviar o stress (leia-se: cigarro) nesses dias de cidade fria, descobertas dilacerantes (em um bom sentido) e costas com uma rigidez que seria mais desejável em outras partes do corpo. E sigo para a mesa.

Na tradição budista (sei lá qual delas), no dia do seu nascimento, você (seu espírito, sua alma, seu fantasminha camarada, sei lá) escolhe uma dentre várias luzes possíveis. Essa luz tem o seu destino com profissão, amigos, amantes, família. O pacote completo e alguns brindes extras se você ligar agora. Quando você faz aniversário e apaga as velas, é um momento de escolher outro caminho ou reforçar o seu. Mas isso tem que ser feito no dia e hora exatos do seu aniversário.

Como no quesito Crença eu estou matando cachorro a grito já faz muito tempo, e uma parte do meu cérebro sempre foi muito crédula não importa o quão ateu eu me encontrasse naquele momento, decidi experimentar. Me lembro que Crença é igual a droga, enquanto você fica na superstiçãozinha básica tudo bem, mas se você passa a querer encher as narinas de incenso, ou começa a queimar pedra (de mirra) a coisa complica. Mas enfim, podemos usar Crenças recreativamente, pois somos adultos responsáveis.

Recebo os parabéns de minha anfitriã nessa cidade fria. Pego um pedaço de bolo de chocolate que sobrou da páscoa, coloco os palitos em cima. 18. Mas são 20, diacho. Minha anfitriã pega dois palitos de dente e completam-se os 20. OK, agora 6:59, hora de acender os palitos. Alguns pêlos da mão chamuscados depois, chamo minha anfitriã para cantar comigo. A gente canta uma versão acelerada da música e eu apago o último palito que sobrou aceso.

Veio uma sensação boa. De reafirmação. Sabe, quando você tem certeza que é aquilo que você quer? E isso pra mim é tão, mas TÃO raro.

É isso que eu quero mesmo.

Andarilho com um sorriso irônico e uma ponta de amargura no canto da boca. Mas só o suficiente para dar aquele gosto pungente.

Um dos caras que eu admiro disse uma vez que gostava de escrever histórias de terror porque lá ele tinha o direito de fazer finais tristes. Porque a vida é agridoce e nós sabemos que quando as cortinas se fecham em um final feliz, logo depois as coisas vão piorar de novo.

E é assim mesmo. E eu adoro isso.

Minha mãe me telefona e eu cumpro o ritual com prazer.

"Mãe, eu nasci às sete horas, não foi?"
"Sete horas e trinta e nove minutos, meu filho."

Oh, bem.
No quesito Crença, o que vale é a intenção. Já diziam os Cruzados, os Nazistas, Stalin, Mao-Tsé-Tung, os homens-bomba. Esse pessoal em quem dá pra botar fé nas intenções.

Pra terminar, feliz aniversário para Fred, meu padrasto, que faz aniversário hoje também, e pegou o dia dele para pescar. (Com um padrasto que vai passar o aniversário balançando uma vara eu não poderia ter me tornado muito diferente, não é mesmo?) E parabéns pra quem mais comemora aniversário nesse dia. Exceto a Xuxa e o Ayrton Senna. Ela é uma vaca e ele era burro.

Então vamos seguindo, que hoje é um dia bom.

E esses temos que aproveitar.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Só um informe.

Eu vou parar de postar textos críticos sobre teatro por aqui. Citações sim, textos crítico-acadêmicos não.
Aquilo ali embaixo foi uma exceção, porque o espetáculo foi maravilhoso.
Vou criar outro blog e aí sim, falar sobre teatro e experiências com o dito cujo. Isso aqui é pessoal, e embora eu não saiba, ou não queira, distinguir muito bem as coisas (afinal, meu trabalho é representar), eu prefiro que isso aqui continue pessoal.
O outro blog é http://porradearte.blogspot.com


E tenho dito.

Isto é: A Gênese Ordinária.

"Eu sou Deus. Eu sou Satã. Eu sou a puta que pariu."

Eu vi Artaud reencarnado. E o nome dele é Antônio Mello.
Saí do espetáculo com taquicardia. Não conseguia me mexer direito. Tudo na peça funcionava. Com só um ator em palco.
Quase sem cenário. Quase sem figurino.
Só texto e movimentos. Texto e movimentos.
Não sei como ele conseguiu isso. De verdade. Não sei como se consegue isso. Se eu soubesse desses pulos do gato, já teria feito algo assim. Ou estaria em processo de fazer, sei lá.
Não dá pra descrever isso em palavras. É genial.
É insano. É incrível.

É lindo.

Se alguém ficar sabendo desse cara em algum lugar, por favor, assistam. Sei que esse blog é muito pessoal e não tem muita gente que lê ele, mas isso é sério. É uma experiência única.

E eu não estou falando merda como de costume. É sério.
Vão ver essa porra.

Mais clippings

"Se você ligasse hoje, eu diria tanta coisa que nunca disse, e que não vou conseguir dizer nessa carta. (...) é que hoje havia calma, entende? Hoje havia... calma."
Citação de "Carta para o outro lado do muro" de Caio Fernando Abreu na peça "Aqueles Dois"

"Acordei com tudo misturado dentro de mim e não sei porque. Eu não falo sobre nada. Eu não sou ninguém."
Personagem de Fragmento.ponto.alma

terça-feira, 25 de março de 2008

Clippings do festival. (Ou: post puramente documental, sem maiores implicações)

"Minhas peças vão do ontológico para o escatólogico. Nunca para o Lógico."
O Gato de Cheshire (creio eu) em "Scarrol - da trilogia da duquesa à queda da rainha"

"(Para o Cisne) Você parece um... Pênis. Um enorme pênis. Sim, talvez seja esse o seu significado semiológico em minha vida. Meu Deus, essa mania que a gente tem de interpretar tudo que aparece."
Fabiana Gugli em "Terra em Trânsito"

PS: Um detalhe importante: Até prova em contrário, Gerald Thomas é O CARA. Com maiúscula. Sem ele, eu não acreditaria mais em teatro frontal.

domingo, 16 de março de 2008

Um dos pequenos detalhes que me deixam feliz quando eu preciso.

Caro Yuri,

Porque é doloroso conhecer pessoas, conversar com elas e perdê-las quando se viaja... talvez você devesse viajar como se vive. Não importa o quanto você ame alguém, você perderá essa pessoa com o tempo - ou ela lhe perderá. O importante é que você dê valor ao pouco tempo que vocês têm juntos, e aproveite esse tempo o máximo possível. Se alguém me conta uma história extraordinária, eu me lembrarei dessa pessoa pelo resto da minha vida - não importa quanto tempo nós passamos juntos.

(...)

Por você, por favor, viva a vida com aventura. Quando você envelhecer e desacelerar, vai ficar feliz por ter o máximo possível de memórias maravilhosas para transformar em histórias. Mesmo se você não escrever, você vai ficar feliz de ter vivido uma vida aberta, corajosa, conhecendo pessoas e explorando o seu mundo.

Vou calar a boca agora,
Chuck Palahniuk

Uma torrente para dentro de um oceano salgado que fere, fere, mas não mata.

C – (emite um pequeno grito de uma sílaba)

B – (emite um pequeno grito de uma sílaba)

M – (emite um pequeno grito de uma sílaba)

B – (emite um pequeno grito de uma sílaba)

A – (emite um pequeno grito de uma sílaba)

M – (emite um pequeno grito de uma sílaba)

C – (emite um pequeno grito de uma sílaba)

(Tempo)

M – Se você não falar, não posso ajudá-lo.



(Ânsia, Sarah Kane)