segunda-feira, 28 de abril de 2008

Insônia.

Ficar noites sem dormir traz uma impressão parecida com estar apaixonado, ou beber, ou viajar, ou escrever quando aquela idéia pulsa em você, ou ler um livro bom, ou assistir algo que te deixa impressionado, ou apresentar uma performance.
Aquela impressão de estar no fio da navalha. Tudo correndo pelas veias e os olhos afiados, a química no cérebro distorcendo a sua percepção. O que não importava antes agora importa e vice-versa.


Mas passa.
E você fica com sono.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Monotonia.

Sabe aqueles dias que não dá vontade nem de sair da cama?
Pois é.
Não quero nem ir pro ensaio.

E, pra compensar a tempestade de ontem que alagou meia cidade, hoje não tem nem sombra de nuvem no céu pra deitar num edredon e ler alguma coisa.
Godammit.

(Hummm, cd ao vivo do Zeca Baleiro, Eliott Smith e jazz...)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Deus é pai.

Quase me converto e encontro o Senhor Jesus em meu coração agora de manhã.
Essa intuição ariana dá medo. A pior parte é: como eu explico isso para as pessoas?
Chegando em casa do ensaio à meia noite, eu precisava escrever um trabalho e formatar outro. Isso significa passar a noite em claro já que são quase uma da manhã e a aula é às sete e dez.
Mas não me mandam os links a serem pesquisados. Mandam só o trabalho a ser formatado. E eu não vou telefonar pra ninguém à uma da manhã.
Até poderia. Mas não vou. Não sei o porquê.
Deixo até o trabalho a ser formatado pra lá. Tento fingir uma indignação. Nem eu acredito nela. Simplesmente não sai. Não consigo ficar com raiva.
Vou dormir.
Acordo às 5. Me deixo rolar na cama até as 5:40.
Ligo para quem devia ter me mandado os links às 6:30. Ela, preocupada, me diz que vai mandar para que eu faça o trabalho agora.
E eu não consigo ficar preocupado.
Cinco minutos depois, outra ligação. "Yuri, você é um cagado."
"O quê?"
"A professora acabou de me ligar e disse que não vai ter aula hoje."
"CAAAAAAAAARAAAAAAAAAAALHOOOOOOOOOO!!!!!!!! GRAÇAS A DEEEEEEEUUUUUUUUUUSSSSS!!!!!"
Ok, eu fiquei muito feliz, mas não estava realmente preocupado. Eu só não conseguia me importar. Era como se eu soubesse que não tinha importância alguma naquela hora.
Eu sei que ninguém vai acreditar nisso.
...
Vou jogar na Mega-Sena pra ver se dá certo.
Aí eu tenho certeza que todo mundo vai acreditar em qualquer coisa que eu disser.
Pelo menos na minha cara ninguém vai me chamar de mentiroso.

All I could find was a desert.

Foi isso que saiu hoje.
"I wanted to buy you flowers, but all i found was a desert inside me."
O resto do que escrevi é segredo de trabalho. Mas isso sempre me incomodou nessa música. Eu sempre escuto INSIDE ao invés de around. Eu sei que ela fala que o deserto está em volta, e não dentro.
Talvez comigo seja diferente. Talvez por isso eu não consiga mudar muito. Porque a coisa está dentro. Eu só fico correndo de mim mesmo.
Tem coisas que eu não quero admitir. Percebi isso hoje. Teatro faz mal para essas negações que Freud explica tão bem. Ele põe tudo à mostra. Arte faz isso, né?
Tem uma série de coisas que eu não quero admitir.
E lá eu posso botar pra fora.
Botar aquilo pra fora doeu. Eu não imaginei que ainda sentisse aquelas coisas.
Algumas culpas, notar que certas coisas tiveram e têm mais importância do que eu me permito admitir.
Do que eu admito pras pessoas. Mas quando eu admiti muito menos que isso, já me sugaram tanto. Vou guardar isso pra mim.
Ninguém precisa saber. Eu preciso me arriscar mostrando, claro. Senão eu não vivo. E eu não me interesso por coisas adultas como obras ou lifetime achievements. Eu quero viver a essência do instante.
"Eu não tenho muitas esperanças sobre o futuro. Só escovo os dentes todos os dias e espero que eles não caiam."
Isso me resume.
Afora uma ou outra tentativa de encontrar outra pessoa. O outro.
Amor e outros objetos pontiagudos.
Decidi afundar de vez. Vivo dizendo que invejo vidas de pessoas que sairam dessa cidadezinha de merda. Mas hoje cansei. When it's on, it's on. É pra valer. Viver essa porra. Seja em Natal, no Inferno ou em Itaquaquecetuba-mirim.
Ok, exagerei nesse último, mas dá pra entender.
Vamos escrevendo.
Seguindo.
Fazendo teatro.
Lendo.
Bebendo.
Viajando.
Perfurando com os tais objetos pontiagudos da vida.

Porque o resto é só passatempo.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Como todos nós nos sentimos às vezes. E como eu me sinto esses dias.

"Não importa quanto cuidado você tenha, vai haver aquela impressão de que você perdeu alguma coisa, a sensação vazia debaixo da sua pele de que você não aproveitou tudo que podia. Aquela sensação de aperto no coração de que você passou batido por momentos nos quais deveria estar prestando atenção.
Bem, se acostume com essa sensação. Um dia você vai sentir isso em relação à sua vida inteira.
Isso é só um treino. Nada disso importa. Estamos só nos aquecendo."

(Invisible Monsters, Chuck Palahniuk)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Depois de noites insones, manhãs discutindo política estudantil e provas inesperadas de psicologia.

Comecei a escrever cartas. Acho que essa promessa de ano novo dá pra cumprir. Tentar comunicação, apesar de tudo. Tentar manter alguma coisa apesar da fragilidade inerente da vida.

" Everyone mistakes the things you say
Take the simple truth and
Twist it all around
Make it sound important
Make it seem profound"

E descobri que eu sou noturno. Mesmo. Isso para um performer cujo trabalho envolve muito o corpo é foda. Mas a noite lhe deixa naturalmente sozinho. E eu preciso muito disso. Não sei se por escolha ou por acaso. Mas preciso. Ou talvez eu só tenha andado assim esses dias.

"Everyone I know has gone away
Died or left or just forgot to stay
Sometimes took for granted
Sometimes turned away
Sometimes didn't say what
I meant to say"

Contato. Contato. Contato. Qualquer contato significativo. Mesmo que dê errado. Qualquer contato. Vou tentar isso. Essa necessidade tem pulsado muito forte.

domingo, 13 de abril de 2008

Reaching closure.

O que a gente sente é difícil porque tem que estar pronto no momento seguinte para levar um tapa na cara. Ou um soco no estômago. Ou um beijo inesperado. É como o sal nas lágrimas que deixa a vida palatável.
A dor nos mantém vivos.
Todo o inesperado dói muito. Mas o previsto é pior. Porque você está pronto e não se permite sentir. Porque não dá tempo. Porque há uma série de coisas a ser feita e o mundo não vai parar.
Aí você se acostuma a viver nos intervalos. Nos curtos intervalos entre os grandes momentos de trabalho, amenidades e vazio.
Você pode se cansar e tentar transformar tudo num intervalo. Mas não é assim que funciona.
Por causa do hábito.
Por causa do acordar e do café da manhã
Por causa dos dias que nunca são iguais.
Por causa do tempo, sempre esse tempo que fica cada vez mais escasso. E quando você escolhe diferente e muda e transforma tudo, já não é mais. Só não é.
E eu só ando sentindo as coisas dias depois.
E é muito muito estranho ter as coisas previstas.
Estou desamarrando alguns nós. Lentamente.
Lentamente.

E acordar uma manhã descobrindo uma banda como Mew ajuda. A soltar esses nós.

domingo, 6 de abril de 2008

Momentos de fraqueza.

Eu estava pensando, quando acordei ao meio dia, como essa cidade acabou me arrastando de volta para uma infinidade de momentos "não vou nem tentar porque não dá certo" em apenas uma semana.
Mas aí eu lembrei que a filmagem do Fausto terminou, que eu não preciso ficar fazendo merdas que eu não quero e que, apesar dessa cidade às vezes me deixar razoavelmente de saco cheio e assexuado, eu não preciso aguentar isso.
Estou caminhando na espiral para o centro. Se é que existe centro. E não é possível que o gás que Curitiba me deu tenha acabado em uma semana.
Não, não acabou.

Vamos lá.
Respira fundo, cerra os dentes e vai.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

And fade out again.

Essa cidade medíocre não vai me engolir.
Não vai. Não vai. Não vai. Não vai. Não vai.
Eu vou fazer birra com a universidade, faltar à palestra da professora inócua (sim, esse é o adjetivo que a define perfeitamente) e ler o meu Sandman.
E pronto. Caralho.

Sobre tomar cuidado consigo mesmo.

Cuide-se. Foi essa a expressão que ficou em minha cabeça depois da mostra do processo da peça "Deserto".
Cuide-se.
Uma artista européia, da qual não me lembro o nome agora, fez uma vídeo-arte que consistia no seguinte: 107 mulheres lendo uma carta de despedida. Vou explicar. Essa artista levou um pé na bunda do namorado. Por e-mail. Ela pegou esse e-mail e 107 mulheres diferentes (desde atrizes até advogadas) e as fez lê-lo em voz alta na frente de uma câmera, uma de cada vez.
E o e-mail terminava com a seguinte afirmação: Cuide-se.
Isso bateu na minha cabeça naquele lugar que você prefere deixar escondido, sabe? Pra não incomodar no dia-a-dia. The eraser, como diz Thom Yorke. A gente tem que apagar certas coisas. Mas eu acho que minha borracha é meio defeituosa.
Eu me perguntei quantas vezes eu tinha dito essa frase.
Quantas vezes eu a tinha ouvido.
Quantas vezes havia sido recíproca. Quantas vezes não.
Tinham sido muitas?
O que são muitos "Cuide-se"?
Quando eu disse essa frase pra alguém, eu pensei que já a havia ouvido? E vice versa? Eu pensei em alguma coisa? Ou é só um meio de fugir da responsabilidade? Se bem que eu sei que culpa esmaga você com o tempo. Mas... a questão no fundo é: O que essa frase deve significar?
Foi isso que eu pensei quando me falaram que cada uma das mulheres no vídeo lê a carta de um jeito diferente.
Cuide-se.
É vago. É amplo. Eu estou realmente me importando?
E se eu me importar, faz diferença para como aquela pessoa se sente?
E quando alguém me diz isso, como eu devo compreender? É uma coisa tão solta...
Aí eu faço conexões com intenções que eu já tive ao dizer essa mesma coisa.
E sinto que eu não posso entender quem quer que seja.
É claro que todos vamos nos cuidar. O que isso quer dizer?
O que eu quis dizer?
O que eu quero dizer?
O que dá pra dizer nesses momentos?
Muito pouco.

Talvez "Cuide-se" seja o melhor que nós podemos fazer.